domingo, 26 de março de 2017

Marvel – Punho de Ferro

Nova série da Netflix sobre os Defensores é bem fraca


Daniel Rand é mais um daqueles heróis criados décadas atrás cujos autores achavam uma boa ideia dar poderes a uma pessoa rica. Filho do dono de uma empresa de telecomunicações, ele é o único sobrevivente de um desastre aéreo. Ao ver seu pai e sua mãe morrerem em uma montanha deserta, ele é acolhido por monges, que o treinam na milenar arte do Kung Fu. O garoto passa anos por lá e se torna o Punho de Ferro, uma arma viva, que tem por objetivo enfrentar o Tentáculo.

O Punho de Ferro nos quadrinhos é um personagem muito legal. Ele não tem os poderes de um deus, uma armadura que voa em velocidade supersônica, um arsenal de mísseis nem nada disso. Ele tem o Kung Fu e um soco que pode destruir paredes. Apesar de rico e ter sido treinado como monge, ele é falho, tem defeitos e conflitos internos. É um personagem menos semi-deus e mais humano do Universo Marvel, assim como Demolidor, Jessica Jones e Luke Cage, que formarão, no segundo semestre de 2017, a equipe Defensores na série homônima do Netflix.

As duas temporadas de Demolidor e a de Jessica Jones são maravilhosas. A de Luke Cage é péssima. E agora, com a chance de se recuperar, chegou, no dia 17 de março, a nova série da Marvel, o Punho de Ferro, que é... ruim. Bem ruim.

O seriado exclusivo pelo sistema de streaming Netflix tem 13 episódios e conta a história de como Daniel Rand volta para casa após ganhar os poderes do Punho de Ferro. Chegando lá, em Nova Iorque, ele é rejeitado e encontra o mal que ele é destinado a combater, o Tentáculo. Durante os capítulos, vemos algumas ligações com as outras séries, com curtas referências ao Demolidor, Jessica Jones e Luke Cage. Todas bem rápidas e bem desnecessárias.

Uma das péssimas lutas do seriado

Duas das conexões com os outros heróis são as personagens Claire Temple (Rosario Dawson) e Madame Gao (Wai Ching Ho). As duas personagens já haviam aparecido e tinham as personalidades mais ou menos consolidadas. Dessa vez, os roteiristas acharam por bem alterar completamente ambas. Claire não parece a mesma personagem. Já a Madame Gao, de fato, não é a mesma. Desta vez, ela se apresenta como uma líder do Tentáculo, o que contradiz as duas temporadas do Demolidor, quando ela era da Serpente de Aço, também rival do Tentáculo.

Outra conexão é que a história se passa na mesma cidade que dos outros três Defensores. Nova Iorque, aliás, é quase um personagem vivo nas outras três séries. Dessa vez, a cidade poderia ser qualquer uma. Cadê a magia do local?

E quem dera esse fosse o maior dos problemas. O personagem principal, interpretado por Finn Jones, é lamentável. Ele é burro, ingênuo de forma impossível (se entrega aos vilões uma cena após outra), e definitivamente não aparenta que treinou com monge algum. Não bastasse o texto ser péssimo, o ator é um baita canastrão, com caras e bocas imperdoáveis. É o único das séries Marvel da Netflix a ter um poder místico. Essa era uma das coisas mais aguardadas: ver o herói com os super-poderes tão conhecidos pelos fãs. Mas além de ele mal saber usá-los, sempre que acessa o poder do Punho de Ferro, ele fica encarando a mão brilhante, tornando a cena bastante lamentável.

A mão brilhante do Punho de Ferro

Não seria tão ruim se ao menos ele se redimisse nas cenas de ação. Muito pelo contrário, ele se afunda ainda mais. A culpa não é só dele, claro. O coreógrafo e os diretores fizeram um trabalho bastante decepcionante. Sabe aqueles filmes de ação com Bruce Lee, Van Damme, The Rock, que mesmo com a história sendo uma tremenda porcaria, tudo é perdoado porque a ação é incrível? Então, esqueça. As coreografias de Kung Fu são horrorosas. Poses e mais poses, com lutas bastante insossas. Lembram das lutas em Demolidor? Uau, eram maravilhosas, com o estilo de pancadas fortes e pesadas.

Em Punho de Ferro, é normal não usarem esse estilo, mas qual o problema de fazer algo parecido com Ip Man?

Cena de Ip Man (Grande Mestre, no Brasil)

Não bastasse terem transformado Kung Fu em uma dancinha de apresentação, toda a cultura oriental foi ridiculamente colocada na tela. Os rituais, como o de se lavar antes da luta para a purificação, por exemplo, foram alterados para bobagens sem sentido e que estão muito longe de representar a cultura oriental. Se é assim que o autor vê os costumes dos chineses, deveria se informar um pouco mais.

Como se não bastasse, o elenco recheia os 13 episódios com cenas horrorosas e atuações lamentáveis. Os personagens Colleen Wing (Jessica Henwick) e Bakuto (Ramón Rodríguez) são, sem dúvidas, os piores. Este último empata com o Kid Cascavel (Erik LaRay Harvey), de Luke Cage, como o pior vilão das séries Marvel até o momento.

Colleen Wing, uma das piores coisas da série

Não bastasse o bandidão da série ser mal interpretado e ser conduzido por um roteiro pavoroso, a série tem mais defeitos, como as coincidências fáceis que levam a soluções de problemas  como que por toque de mágica. Personagens importantes são introduzidos da forma mais óbvia possível, por exemplo. E aquele velho toque de séries de TV, que apresentam algo “interessante” apenas no final do episódio, para te prender a assistir ao próximo, é visto ao longo de toda a série.

Afinal, não acontece muita coisa, mesmo, então o jeito foi deixar o melhor de cada episódio para o último minuto. Desnecessário, já que o espectador pode ver todos os capítulos em sequência, o que tira a “mágica” desse finzinho de episódio. 

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