terça-feira, 27 de junho de 2017

Akira - Impressões sobre a edição brasileira

A expectativa finalmente chegou ao fim e a JBC trouxe ao Brasil o que, na minha opinião, é o melhor mangá já feito. Akira, de Katsuhiro Otomo, é uma obra completa, com muita ação, ficção, amizade e que apesar de escrita na década de 1980, continua muito atual. Aqui no Brasil, é a primeira vez que a HQ chega na versão mangá. Na década de 1990, a Editora Globo lançou o quadrinho no formato americano, de leitura da esquerda para a direita e com páginas coloridas. Por isso, muitos dos leitores brasileiros esperavam a obra com cores, e não preto e branco. Já outros (me incluo neste grupo) ficaram contentes por ler em preto e branco, no formato japonês.

Não faltam assuntos para falar do lançamento de Akira, desde a obra em si, da criação do longa metragem e mesmo da versão da Globo. Por isso, farei mais de um texto. O de hoje será dedicado exclusivamente ao material físico da JBC, lançado na semana passada e até com evento para sacramentar a chegada do quadrinho nas livrarias. Quem quiser adquirir um exemplar, deve desembolsar salgados R$ 69,90. Mas e aí, vale a pena pagar tudo isso?

Para responder a essa pergunta, vamos analisar item a item para explicar nossa opinião.

Dados técnicos

Diferente da maioria dos mangás, Akira é enorme, do tamanho dos quadrinhos americanos. As dimensões são 25,6 cm de altura, 18,8 cm de largura e 2,5 cm de profundidade. O primeiro volume chega com 362 páginas. A JBC já informou que serão seis volumes, sem periodicidade definida e sem previsão da chegada do segundo volume ao Brasil.

Capa

É a primeira coisa que vemos em qualquer lançamento. Akira tem uma capa solta, que protege o material, que pode ser tirada para facilitar o manuseio. Muito bonita, bem trabalhada e com arte em tons fortes de vermelho e rosa, que deixaram a capa mais bonita que na versão mangá lançada nos EUA. A lombada em amarelo, com desenhos, provavelmente vai embelezar a prateleira de muita gente, quando a coleção ficar completa.


Abaixo dessa proteção, temos uma outra capa. Com um desenho bastante caótico, as cores prioritárias são o amarelo e o preto. Pelo fato de não haver muitas coisas escritas, a arte fica em . Apenas um “AKIRA” na frente e um “Akira – 1” na lombada. A montagem também é diferente do que estamos acostumados aqui, porque é colado na borda e é como se fossem dois papéis soltos. Esse formato é mais comum no oriente, mas não atrapalha em nada o manuseio.


Na minha opinião, a JBC fez bonito e a capa saiu perfeita.

Páginas iniciais


As oito primeiras páginas são coloridas, em papel couché. A arte nesta parte da HQ é de páginas duplas, o que prejudica um pouco a visualização da arte cheia, já que temos uma dobra no meio do desenho. As cores, em compensação, estão muito bonitas e o papel é de qualidade.


A obra


A arte em preto e branco fica muito boa no papel Lux Cream. Segundo Cassius Medauar, gerente de conteúdo da JBC, em conversa no podcast Confins do Universo, o papel usado foi o mais próximo ao utilizado na versão japonesa. O papel é leve, mas não é frágil e valoriza a arte de Katsuhiro Otomo. Com um livro de 362 páginas, o material ficou relativamente leve e é fácil de manusear.

Conclusões

Conforme mencionei, o material não é exatamente barato, mas pelo que se recebe, vale cada centavo. O mangá está lindo e impecável. Ao menos no exemplar que comprei, não se vê uma falha sequer, nem de impressão, nem de corte (nenhuma rebarba),  nem reparei em nenhum erro de digitação. Ao considerar também que são 362 páginas, o preço não é alto.


A minha opinião é que o material não poderia ser melhor. Akira ficou bem nas mãos da JBC, a editora com mais experiência em mangá no Brasil. A obra merece ser tratada com respeito e foi isso que a equipe demonstrou ao entregar um material de tamanha qualidade para os fãs atuais e futuros de uma das melhores HQs de todos os tempos.

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Crítica - Escolhas


Quando eu era criança, o melhor desenho de super-herói da época era o Batman: The Animated Series. Com todo o clima noir, mas cheio de ação e aventura, via o homem-morcego enfrentar vilões com o cérebro e os punhos. Gostava tanto que procurei mais histórias do Batman, justamente nos quadrinhos. Foi por culpa desse desenho que fui atrás de Cavaleiro das Trevas, Ano Um, Asilo Arkham, e de lá, para outros personagens. Por isso, o primeiro quadro de Escolhas me levou à minha infância e, logo de cara, fiquei grudado nas páginas.

A história é escrita por Felipe Cagno, com traços de Gustavo Borges e cores de Cris Peter. A dupla de arte já havia me encantado em Pétalas, por isso, quando vi Escolhas na livraria, agarrei meu exemplar como se não houvesse amanhã. Os três juntos dão vida a João Humberto. Uma criança, que assim como eu, teve a vida completamente alterada ao assistir ao Batman. Bem... Não é exatamente o Batman, mas simplesmente por questões de direitos autorais. A sequência inicial do gibi, mostrando a abertura do episódio em um quadro, e a reação de João ao lado, é muito interessante. É possível sentir a empolgação do garoto.


O herói que o garoto adora é o Lobo Cinzento. E ele não perde um capítulo por nada no mundo. No caso dele, diferente do meu, ele decide que quer ser um super-herói quando crescer. E se inspira tanto que tenta defender os fracos dos opressores, mesmo quando isso significa levar uns sopapos.

Mas João nunca desiste. Ele passa a infância, a adolescência e o começo da vida adulta com a obsessão de virar um super-herói. Os pais dele acham inadmissível a ideia e tentam mostrar que ele precisa mesmo é de um emprego. Colocam-no em sessões de terapia e tentam mostrar o “mundo real”. Mesmo assim, João mostra a todos nós que “todo sonho é piada até que o primeiro homem o realize”.

A mensagem, é claro, não é sobre virar de fato um super-herói, mas sobre do que nós desistimos. O que deixamos para trás simplesmente por não ser fácil realizar, ou considerado impossível por uns. João é forte, é persistente, e quando lhe perguntam se é isso que ele quer da vida, ele nos faz refletir se o que vivemos hoje é realmente o que sonhamos um dia. A vida comum, tradicional, é realmente o sonho de todos? Ele explica que é possível ter uma vida boa, com a família e um bom emprego mesmo sem abrir mão de nada que realmente amamos.


Escolhas é uma HQ de leitura rápida, mas que prende os olhos quadro a quadro, por conta da bela arte. A lição deixada por João Humberto é muito boa e o final é muito satisfatório. Fiquei realmente feliz que em um mundo onde os filmes são todos de heróis que resolvem tudo na base da pancadaria, foram justamente quadrinistas brasileiros que mostraram o que eu considero também a essência de um verdadeiro herói.