terça-feira, 27 de junho de 2017

Akira - Impressões sobre a edição brasileira

A expectativa finalmente chegou ao fim e a JBC trouxe ao Brasil o que, na minha opinião, é o melhor mangá já feito. Akira, de Katsuhiro Otomo, é uma obra completa, com muita ação, ficção, amizade e que apesar de escrita na década de 1980, continua muito atual. Aqui no Brasil, é a primeira vez que a HQ chega na versão mangá. Na década de 1990, a Editora Globo lançou o quadrinho no formato americano, de leitura da esquerda para a direita e com páginas coloridas. Por isso, muitos dos leitores brasileiros esperavam a obra com cores, e não preto e branco. Já outros (me incluo neste grupo) ficaram contentes por ler em preto e branco, no formato japonês.

Não faltam assuntos para falar do lançamento de Akira, desde a obra em si, da criação do longa metragem e mesmo da versão da Globo. Por isso, farei mais de um texto. O de hoje será dedicado exclusivamente ao material físico da JBC, lançado na semana passada e até com evento para sacramentar a chegada do quadrinho nas livrarias. Quem quiser adquirir um exemplar, deve desembolsar salgados R$ 69,90. Mas e aí, vale a pena pagar tudo isso?

Para responder a essa pergunta, vamos analisar item a item para explicar nossa opinião.

Dados técnicos

Diferente da maioria dos mangás, Akira é enorme, do tamanho dos quadrinhos americanos. As dimensões são 25,6 cm de altura, 18,8 cm de largura e 2,5 cm de profundidade. O primeiro volume chega com 362 páginas. A JBC já informou que serão seis volumes, sem periodicidade definida e sem previsão da chegada do segundo volume ao Brasil.

Capa

É a primeira coisa que vemos em qualquer lançamento. Akira tem uma capa solta, que protege o material, que pode ser tirada para facilitar o manuseio. Muito bonita, bem trabalhada e com arte em tons fortes de vermelho e rosa, que deixaram a capa mais bonita que na versão mangá lançada nos EUA. A lombada em amarelo, com desenhos, provavelmente vai embelezar a prateleira de muita gente, quando a coleção ficar completa.


Abaixo dessa proteção, temos uma outra capa. Com um desenho bastante caótico, as cores prioritárias são o amarelo e o preto. Pelo fato de não haver muitas coisas escritas, a arte fica em . Apenas um “AKIRA” na frente e um “Akira – 1” na lombada. A montagem também é diferente do que estamos acostumados aqui, porque é colado na borda e é como se fossem dois papéis soltos. Esse formato é mais comum no oriente, mas não atrapalha em nada o manuseio.


Na minha opinião, a JBC fez bonito e a capa saiu perfeita.

Páginas iniciais


As oito primeiras páginas são coloridas, em papel couché. A arte nesta parte da HQ é de páginas duplas, o que prejudica um pouco a visualização da arte cheia, já que temos uma dobra no meio do desenho. As cores, em compensação, estão muito bonitas e o papel é de qualidade.


A obra


A arte em preto e branco fica muito boa no papel Lux Cream. Segundo Cassius Medauar, gerente de conteúdo da JBC, em conversa no podcast Confins do Universo, o papel usado foi o mais próximo ao utilizado na versão japonesa. O papel é leve, mas não é frágil e valoriza a arte de Katsuhiro Otomo. Com um livro de 362 páginas, o material ficou relativamente leve e é fácil de manusear.

Conclusões

Conforme mencionei, o material não é exatamente barato, mas pelo que se recebe, vale cada centavo. O mangá está lindo e impecável. Ao menos no exemplar que comprei, não se vê uma falha sequer, nem de impressão, nem de corte (nenhuma rebarba),  nem reparei em nenhum erro de digitação. Ao considerar também que são 362 páginas, o preço não é alto.


A minha opinião é que o material não poderia ser melhor. Akira ficou bem nas mãos da JBC, a editora com mais experiência em mangá no Brasil. A obra merece ser tratada com respeito e foi isso que a equipe demonstrou ao entregar um material de tamanha qualidade para os fãs atuais e futuros de uma das melhores HQs de todos os tempos.

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Crítica - Escolhas


Quando eu era criança, o melhor desenho de super-herói da época era o Batman: The Animated Series. Com todo o clima noir, mas cheio de ação e aventura, via o homem-morcego enfrentar vilões com o cérebro e os punhos. Gostava tanto que procurei mais histórias do Batman, justamente nos quadrinhos. Foi por culpa desse desenho que fui atrás de Cavaleiro das Trevas, Ano Um, Asilo Arkham, e de lá, para outros personagens. Por isso, o primeiro quadro de Escolhas me levou à minha infância e, logo de cara, fiquei grudado nas páginas.

A história é escrita por Felipe Cagno, com traços de Gustavo Borges e cores de Cris Peter. A dupla de arte já havia me encantado em Pétalas, por isso, quando vi Escolhas na livraria, agarrei meu exemplar como se não houvesse amanhã. Os três juntos dão vida a João Humberto. Uma criança, que assim como eu, teve a vida completamente alterada ao assistir ao Batman. Bem... Não é exatamente o Batman, mas simplesmente por questões de direitos autorais. A sequência inicial do gibi, mostrando a abertura do episódio em um quadro, e a reação de João ao lado, é muito interessante. É possível sentir a empolgação do garoto.


O herói que o garoto adora é o Lobo Cinzento. E ele não perde um capítulo por nada no mundo. No caso dele, diferente do meu, ele decide que quer ser um super-herói quando crescer. E se inspira tanto que tenta defender os fracos dos opressores, mesmo quando isso significa levar uns sopapos.

Mas João nunca desiste. Ele passa a infância, a adolescência e o começo da vida adulta com a obsessão de virar um super-herói. Os pais dele acham inadmissível a ideia e tentam mostrar que ele precisa mesmo é de um emprego. Colocam-no em sessões de terapia e tentam mostrar o “mundo real”. Mesmo assim, João mostra a todos nós que “todo sonho é piada até que o primeiro homem o realize”.

A mensagem, é claro, não é sobre virar de fato um super-herói, mas sobre do que nós desistimos. O que deixamos para trás simplesmente por não ser fácil realizar, ou considerado impossível por uns. João é forte, é persistente, e quando lhe perguntam se é isso que ele quer da vida, ele nos faz refletir se o que vivemos hoje é realmente o que sonhamos um dia. A vida comum, tradicional, é realmente o sonho de todos? Ele explica que é possível ter uma vida boa, com a família e um bom emprego mesmo sem abrir mão de nada que realmente amamos.


Escolhas é uma HQ de leitura rápida, mas que prende os olhos quadro a quadro, por conta da bela arte. A lição deixada por João Humberto é muito boa e o final é muito satisfatório. Fiquei realmente feliz que em um mundo onde os filmes são todos de heróis que resolvem tudo na base da pancadaria, foram justamente quadrinistas brasileiros que mostraram o que eu considero também a essência de um verdadeiro herói.

terça-feira, 16 de maio de 2017

Crítica - Pétalas


Sem uma só palavra, o autor Gustavo Borges faz o leitor se deixar levar do começo ao fim de sua história, em Pétalas. A trama retrata um inverno pesado e a criação de uma amizade que surge forte e dura para sempre. Em poucas páginas e com uma narrativa fluida, o autor contou uma história com começo, meio e fim. Pétalas é um daqueles quadrinhos que tem como objetivo ser uma obra de arte. Daquelas que encantam.


E é bem sucedida nisso. É emocionante ver a construção, que tem como personagens principais um filhote de raposa e um pássaro adulto que também é um mágico. No pouco tempo que dura a jornada deles juntos, vemos uma amizade sincera, em que o adulto passa os ensinamentos para o jovem. Mesmo sem uma só fala, vemos como o mais velho transforma o garoto com sua maneira de ver o mundo e com otimismo.


O mágico mostra ao leitor que somos um reflexo de nosso meio. Se assistimos apenas a programas de tragédias, obviamente teremos uma visão pessimista do mundo. Ao passo que se usarmos nosso tempo na Terra para ajudar os outros e nos deixarmos levar por uma música ou notícias mais otimistas, teremos uma visão completamente diferente.


Com belos traços de Gustavo Borges, as cores de Cris Peter têm um importante papel. Os tons frios do inverno são congelantes, enquanto o vermelho do refúgio aquece. A última página, em especial, é linda. O trabalho dos dois casou com perfeição em uma daquelas HQs para ficar na história. Pétalas é uma obra brilhante. 

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Crítica - Chico Bento: Arvorada


Quando soube que Chico Bento teria um “remake” na série da MSP, não soube ao certo o que pensar. Gostei bastante de Pavor Espaciar, uma história divertida e que capturou bem a essência interiorana de lendas urbanas de discos voadores. Porém, quando as primeiras imagens foram divulgadas, logo me esqueci do anterior e me deixei ser pego por mais uma das belíssimas obras da turma da Mônica.

Foram dias e mais dias caçando o livro até finalmente ter a chance de abri-lo em casa e ser pego por um dos maiores espetáculos dos últimos anos. Que orgulho de poder ler uma obra dessas no idioma original, no meu idioma. Infelizmente, a obra não é tão popular quanto a de tantos super-heróis por aí e não terá a apreciação que merece ao redor do mundo. Mas como nós somos privilegiados em poder ter em mãos essa obra-prima.

Em Arvorada, Orlandeli trouxe uma arte pouco comum, com um roteiro tocante. O foco é a relação entre Chico Bento e a avó dele. Um, representando a juventude, impulsionado pelos desejos mais simples e que pensa que tudo no mundo é eterno. A outra, mais sábia, provavelmente passou por tudo o que o jovem já viveu. Desde as coisas simples às mais duras. Ela é a essência da verdadeira avó. Ela ensina as lições da vida, mas é carinhosa, terna e amorosa.


De forma superficial, os diálogos parecem ser extremamente simples, porém, não são. A construção, os vícios de linguagem e a simplicidade nas falas interioranas são meticulosos. Muito bem construídos, fazem com que o leitor mergulhe de cabeça e nem ao mesmo perceba que existem incontáveis “erros” de português. A leitura flui de forma maravilhosa.

Mas não apenas com diálogos e narração se faz uma bela história. Chico e sua avó são muito mais do que isso. Os dois compartilham lindos momentos ao longo da trama, que mais parece uma poesia em telas. As fortes cores amarelas, em uma diagramação não convencional, sem quadros, consegue trazer ao leitor uma narrativa bela, sem amarras. Orlandeli usou todos os artifícios para fazer a verdadeira arte, sem se preocupar com linhas separando as ações, sem preocupações com a narrativa quadrada, americanizada. A trama, os desenhos e cores formam um verdadeiro espetáculo.


Arvorada é isso. Simples assim. Um espetáculo. Roteiro que, na simplicidade, toca o fundo do coração de cada leitor. A cada página, uma verdadeira obra-prima de cores e emoções que levam à infância, à solidão que todos sentimos em algum momento, mas que ao olhar para o lado, percebemos que havia alguém para ensinar, para apoiar. Orlandeli nos faz lembrar daquelas pessoas que são eternas em nossas vidas, nas relações mais sinceras que todos temos, aquelas que não são baseadas em trocas de favores. E soube retratar muito bem como o amor de avó (ou de avô) é. Um amor puro, que tem a única intenção de fazer o bem para a neta ou neto e que é retribuído, também, de forma pura e sincera. 

terça-feira, 9 de maio de 2017

Crítica - Guardiões da Galáxia: Vingadores Cósmicos


O encadernado Guardiões da Galáxia: Vingadores Cósmicos, escrito por Brian Michael Bendis, traz as histórias publicadas originalmente em Guardians of the Galaxy 0.1, 1-3 e Guardians of the Galaxy: Tomorrow’s Avengers 1. Os desenhos da história principal são de Steve McNiven (0.1, 1-3) e Sara Pichelli (2-3). Em Os Vingadores do Amanhã, a arte é de Michael Avon Oeming, Rain Beredo, Ming Doyle, Javier Rodrigues e Michael Del Mundo. O livro, publicado no Brasil pela Panini, traz também uma galeria de capas e contém 144 páginas.

A trama principal começa contando a história de um casal interplanetário formado por um homem de outro planeta e uma terráquea, em uma cidade no interior dos EUA. A narrativa é interessante e traz elementos quase cinematográficos nos planos de imagem e na forma de diálogo, muito bem fluidos, o que é marca registrada de Bendis. O alienígena chega à Terra por acidente, se apaixona, mas antes de ir embora deixa um herdeiro para ser cuidado sozinho pela mãe.

A mulher cria o filho sozinho, sem pai. O nome dele é Peter e, mais tarde, ele se tornaria o líder do grupo Guardiões da Galáxia. O time de improváveis heróis tem a mesma formação dos filmes recentes da Marvel, com o meio humano-meio alien e comandante do time Senhor das Estrelas, Gamora, Rocket Racoon, Groot e Drax. Nesse arco, há uma participação significativa do Homem de Ferro. O esquadrão tem como missão proteger a Terra de uma invasão, arquitetada pelo pai de Peter.


Repleta de ação e momentos divertidos, a história segue a linha dos filmes do grupo. Com elementos mais pop, como o já mencionado enquadramento cinematográfico e uma narrativa moderna, as cenas de ação são bastante dinâmicas e coloridas. Além disso, tentando atrair os fãs do filme, a trama, apesar de bastante complexa, envolvendo traições interplanetárias e jogos políticos, é construída de forma simples. O foco claramente é a ação.

O grupo funciona aos trancos e barrancos, chega até a ser um pouco falho, o que torna os personagens mais interessantes. Eles não são perfeitos, por isso, devem se esforçar muito para completar a missão em que estão inseridos. A dupla Racoon e Groot são o destaque. O animalzinho falante e rebelde é bastante divertido em sua forma rabugenta de ser e a árvore é totalmente imprevisível.


Após o final da trama, o encadernado apresenta a história Vingadores do Amanhã. São quatro curtas de dez páginas cada, aproximadamente. Em cada uma, mostra como Peter convocou cada um dos companheiros para a atual missão. É rápido e interessante, mas não indispensável.


Para quem gosta de super-grupos e está cansado de Vingadores e Liga da Justiça, o encadernado é uma boa pedida. Para quem gostou do filme do Guardiões da Galáxia, também. A história não é um primor, mas é divertida e direta. Sem dúvida, o grupo foi muito bem apresentado com os argumentos de Bendis e a arte tanto de McNiven quanto de Pichelli. A Marvel acertou em cheio ao apostar em um dos ótimos, mas obscuros, super-grupos de seu plantel.

quarta-feira, 26 de abril de 2017

Crítica - Deadpool: Caçador de Almas


O mercenário tagarela Deadpool certamente ganhou o filme que merecia em 2016. Com diálogos metalinguísticos, referências aos atores dos personagens e com muitas piadas, a adaptação fez jus às boas histórias do anti-herói. Infelizmente, Deadpool: Caçador de Almas não foi capaz de trazer para o papel o bom humor que o personagem trouxe para a tela. O encadernado tem 140 páginas, com roteiro de Gerry Duggan e Brian Posehn. 

Ao contrário das melhores histórias do Deadpool, as que fizeram dele um personagem único, essa é muito linear e engessada. O tagarela é tão adorado porque ele não sabe o limite dos quadros, “sabe” que é um personagem de quadrinhos, conversa com o leitor. Nesse arco, nada disso acontece. Há uma piada ou duas, como quando ele bate a cabeça ao saltar de um prédio e se pergunta “como o Batman faz isso parecer tão fácil”. Há humor, mas não é tão divertido.


A trama é uma continuação do encadernado anterior “Meus Queridos Ex-Presidentes”. Naquela publicação, a história é mais ridícula, mas no bom sentido, e tem foco no mercenário enfrentando presidentes zumbis americanos, invocados com a intenção de salvar a pátria. Desta vez, temos Deadpool em uma missão simples. Ele precisa matar seis pessoas que fizeram pacto com a entidade demoníaca Vetis. Para isso, ele comete atrocidades em quadros bem sangrentos. Nada verdadeiramente exagerado. Quem está acostumado com o personagem não vai achar nada fora do comum.

A história é contada em duas partes. A primeira, publicada originalmente em Deadpool #7, tem arte de Scott Koblish e se passa na era de ouro dos quadrinhos, segundo o próprio personagem. Ela traz traços imitando histórias antigas do Homem-Aranha e mostra o Deadpool em uma introdução ao arco principal, com a participação do Homem de Ferro da época que teve sérios problemas com bebidas alcoólicas (referência ao clássico “O Demônio na Garrafa”). Esta primeira parte é mais interessante, com piadas, referências e metalinguagem.


Já o arco principal, que reúne Deadpool dos números 8 a 12, com arte de Mike Hawthorne, flui de forma previsível. A história tem algumas reviravoltas, mas são lineares e, por isso, decepcionantes. Não há quebras de quadro, ou nada verdadeiramente interessante. Há um momento que vemos como é “dentro” da cabeça do mercenário, mas é um museu velho e sujo. É conservador demais para um personagem que costuma conversar com o leitor. Faltaram surpresas e ideias mais “fora do quadrado”.


Deadpool se encontra com Homem-Aranha, Demolidor, Jessica Jones. São muitos crossovers e o anti-herói consegue tapear todos os participantes especiais. Mesmo assim, o roteiro não é muito inspirador. O lado positivo fica mesmo para o visual. A arte é bonita do começo ao fim. Outra coisa boa é que a edição da Panini está caprichada, como todas dos encadernados Nova Marvel. Pena que o roteiro ficou aquém do que promete. O personagem merece mais, com um roteiro mais ousado.

terça-feira, 25 de abril de 2017

Iniciativa Marvel Legacy chega para levar editora de volta às raízes


Em mais uma tentativa de chacoalhar o universo dos quadrinhos e alavancar as vendas, a Marvel anunciou, este sábado, sua nova iniciativa intitulada Legacy. Segundo o chefe criativo Joe Quesada, esta nova era da editora virá para "abraçar as nossas raízes e avançar com entusiasmo para frente". Legacy estreia nos EUA no outono (nossa primavera).

O anúncio foi feito durante o painel "Marvel's Next Big Thing" no evento Chicago C2E2 2017. A nova fase começará com uma edição de 50 páginas, intitulada Marvel Legacy # 1, escrita por Jason Aaron e com arte de Esad Ribic (excelente na fase do Poderoso Thor). O ponto principal desta edição é que após o lançamento, os títulos de longa data da editora voltarão à numeração original.

"A iniciativa Marvel Legacy é uma celebração de tudo que faz da Marvel a melhor em ficção e é um ponto significativo em uma nova era nos quadrinhos da Marvel", disse Quesada. "É um olhar amoroso no coração da Marvel, enquanto abraçamos nossas raízes e nos movemos com entusiasmo para frente com todos os personagens da Marvel que você conhece e ama, estrelando as maiores e mais audaciosas melhores histórias", informou.


Quesada também disse que outra coisa que balançará o universo da editora será a volta de um pilar importante da Marvel. As especulações apontam para o retorno do Quarteto Fantástico, mas ainda não há nada confirmado sobre isso. 

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Crítica - Mulher-Maravilha Terra Um


A heroína mais popular da DC ganhou uma nova publicação com tratamento de luxo no Brasil. Mulher-Maravilha: Terra Um tem 148 páginas, capa dura e traz uma equipe criativa de renome, com Grant Morrison, um dos mais criativos roteiristas do mercado editorial e o responsável por recontar a origem da personagem. Os desenhos são de Yanick Paquette e as cores, de Nathan Fairbairn. Os três, juntos, criaram um dos melhores episódios da personagem desde que foi criada. O roteiro não tem enrolações, os desenhos estão lindos e são muito bem preenchidos com as cores de Fairbairn.

Visual mescla o clássico com moderno, rico em detalhes

A trama começa com o semideus grego Hércules fazendo a rainha Hipólita se ajoelhar perante ele, com uma multidão de mulheres enjauladas como testemunhas. Ao tentar estuprá-la, porém, a realeza consegue inverter o jogo e matá-lo. Ela liberta suas protegidas e diz que dali para frente, nenhum homem interferirá em seu reinado. A história tem um salto de 3 mil anos, vindo para os dias atuais, mostrando a história da filha da rainha na Ilha Paraíso. A princesa anseia por conhecer o mundo, mas é proibida pelas leis do local.

Porém, ao encontrar um piloto da força aérea americana ferido na ilha, ela decide ajudá-lo e foge para o continente, local de origem dele. Com isso, ela é mal vista pelas moradoras da Ilha e caçada por elas. A história não tem muita ação, mas é dinâmica, acontece bastante coisa. Em 148 páginas, vemos o motivo do isolamento das amazonas, a origem da Mulher-Maravilha, sua rebeldia, fuga para o mundo dos homens e retorno ao lar. Sem esquecer também uma série de referências à mitologia grega, não deixando para trás uma das características mais marcantes do universo da personagem.

Estilo arquitetônico da Ilha é visivelmente grego

Os traços são bastante interessantes. No começo, quando vemos apenas a Ilha Paraíso, parece que todas as personagens são desenhadas com o mesmo corpo. Ao levar a história para o continente, porém, as pessoas têm corpos mais flácidos ou magros, o que causa espanto à Mulher-Maravilha, que está acostumada a ver apenas mulheres grandes e fortes. Aliás, ela mesma talvez tenha sido desenhada em uma de suas versões mais robustas. É uma mulher grande e com estrutura bastante larga.

Diana se desespera ao ver mulheres doentes do continente

A Ilha é um cenário que à primeira vista parece bastante absurdo, por ser uma mescla de paraíso natural com uma espécie de sonho erótico do autor. Com mulheres guerreiras, fortes e sem nenhum homem à vista, é um local não apenas de combates e prosperidade, mas também de libertinagem e bebidas. As mulheres claramente têm relações lésbicas de forma desinibida. Na verdade, isso é uma referência a Esparta. Muitos arquivos históricos apontam que os lendários soldados, cercados apenas por homens durante anos e anos, passavam a praticar relações homossexuais com os companheiros de batalha.

Com isso, Grant Morrison aproveita para dar um tom fetichista à história. Em certo ponto, a protagonista oferece ao piloto uma coleira de couro com espinhos de metal para que ele use e se ajoelhe perante ela. Além disso, a princesa passa parte da história acorrentada, totalmente dominada por suas captoras. Se levarmos em consideração que na Ilha as mulheres são desenhadas muitas vezes em poses mais provocantes e temos a sexualização da mulher, isso pode ser visto como um ponto bastante negativo na história. Afinal, além da objetificação da mulher, em dois momentos vemos uma mulher dominada, humilhada. E o mesmo não acontece com os homens. Mesmo no início, quando Hércules é morto, ele não é humilhado.


Mulher-Maravilha subjulgada por suas companheiras

Os autores perderam a oportunidade de criar um hino feminista nesta obra. Apesar disso, o encadernado tem muitos pontos positivos. A história é interessante, a protagonista é carismática, belíssima e a arte é um espetáculo. Os cenários são lindos, ricos e detalhados. A Ilha Paraíso faz jus ao nome, com cores vivas e traços que dão ar de futurismo a uma Grécia antiga. O trio de autores entrega ao leitor uma das melhores releituras da personagem, que merece uma continuação, talvez se impondo mais no mundo dos homens e mostrando sua força em um mundo patriarcal.

terça-feira, 18 de abril de 2017

Crítica - Ms. Marvel: Apaixonada


O encadernado de capa dura Ms. Marvel: Apaixonada, escrito por G. Willow Wilson e com ilustrações de Elmo Bondoc e Takeshi Miyazawa, chega ao Brasil com as edições de Ms. Marvel 12 a 15 e S.H.I.E.L.D. 2. No livro, temos mais um arco de histórias de Kamala Khan, que é certamente uma das principais personagens a surgirem nos últimos tempos no Universo Marvel. A proposta de uma adolescente não-caucasiana ter uma série solo, com equipe criativa forte, é de mostrar ao mundo que não são apenas os heróis homens, brancos que tem vez. Agora, as minorias têm voz e espaço.

Na Marvel, especialmente, sempre houve lugar para os oprimidos. O nerd da escola que apanha, o garoto cego, o franzino que não tinha condições físicas de defender o próprio país, o mutante, que sofre preconceito. Enfim, uma gama de personagens que sofre nas mãos da sociedade comum, racista.

Com o passar dos anos, porém, ficou muito claro que os heróis eram quase todos brancos, e homens. Os quadrinhos retratavam uma realidade que, décadas atrás, era outra. É possível que o excluído, ao menos nos EUA, fosse o garoto raquítico. Mas a sociedade mudou, e hoje os preconceitos são outros. A xenofobia, homofobia, machismo estão muito evidentes. É como se os preconceitos estejam enraizados no ser humano. Mesmo nos leitores de HQ, que leem muitas histórias que falam justamente sobre a aceitação ao próximo.


Mas mesmo com a mudança da sociedade, muitas coisas ficam inertes, sem evolução ou novos olhares. Por exemplo, o Peter Parker sempre tem sua origem como Homem-Aranha contada como um garoto branco que apanhava na escola. É uma referência a todos os adolescentes que sofrem nas mãos de valentões. O leitor se vê na história e torce pelo garoto, para que ele supere esses problemas. Porém, só pelo fato de Peter não ser negro, ou gay, ou estrangeiro, ele não é a pessoa que mais sofre nas mãos de opressores. Ele não passa pelos mesmos constrangimentos que uma mulher, por exemplo. Ou alguém de uma cultura diferente.

Já no caso da jovem Kamala Khan, não se pode dizer o mesmo. Na terceira aventura da garota, além de vermos os problemas que ela sofre por ser de uma família paquistanesa conservadora, em um país com uma cultura completamente diferente, novos desafios são apresentados. Nas histórias anteriores, vemos a adolescente com sérios problemas de adaptação na sociedade em que está inserida. Ela não é completamente aceita pelos jovens americanos comuns, justamente por ser de uma cultura que teme o estrangeiro, principalmente o muçulmano (ainda mais pós 11 de setembro). Mas também sofre muita repressão da família, que tem uma cultura machista, que tenta forçar a jovem a viver de acordo com costumes pelos quais ela não é 100% a favor.

Por um lado, ela tem pais que tentam proibi-la de se envolver com a sociedade. Pelo outro, ela tem uma sociedade que por puro preconceito não quer aceita-la. E ela não exige muito. Só quer ser uma garota com os mesmos direitos de qualquer um. E por ser completamente excluída, ela se apega ao mundo virtual para compensar. Ela gosta de jogos online e é fã de super-heróis. A metáfora perfeita a muitos leitores de quadrinhos, que buscam nos heróis da ficção uma fuga da própria realidade.

Como se não bastasse ter todos esses problemas na cabeça, a garota ainda se vê cheia de super poderes e os desafios pulam na sua frente sem dar trégua. Antes do arco Apaixonada, dividido em três capítulos, o encadernado traz uma história em que Kamala conhece Loki. O ex-vilão nórdico vai até a escola da heroína para tentar fazer dela e o melhor amigo dela, Bruno, um casal. Ele vai com boas intenções, mas acaba arruinando tudo, em uma história leve e divertida, mas que serve de introdução à trama principal. Que foi publicada originalmente nos EUA em Ms. Marvel dos números 13 ao 15.


Logo no início, Kamala começa a treinar com os Inumanos para tornar-se uma heroína mais qualificada. As primeiras dificuldades da garota passam a ser conciliar estudo com a vida deMs. Marvel. Nesse meio tempo, ela revê um jovem filho dos melhores amigos paquistaneses de seus pais, que volta a morar na mesma cidade que ela, Jersey City. O garoto logo a conquista, por ser bonito, carismático e fanático por jogos online.

Dessa vez, a heroína adolescente tem que enfrentar vilões, esconder sua identidade dos pais, tirar notas boas na escola e lutar contra o sentimento tão comum a qualquer garota da idade, que é a paixão. E em outra excelente metáfora, ela enfrenta também um machismo muito forte e desconfiança em si mesma, quando cai em uma armadilha e o vilão disse que ela foi ao lugar por vontade própria. Com essas palavras, ela passa a duvidar de si mesma, pensando que de fato a errada é ela, em uma clara referência ao estupro, quando garotos escapam dos problemas ao dizer que a garota abusada aceitou sair com ele, então foi consentido.


Por levar temas fortes, mas de forma leve e com uma capa super-heroica, Wilson transforma Kamala em uma das melhores personagens do universo Marvel. Ela é simpática e muito inocente. Mas é forte, não apenas fisicamente, como qualquer mulher pode ser. Ela enfrenta o machismo enraizado na sociedade com coragem e confiança. Ela é a porta-bandeiras de uma geração de garotas que precisa ganhar o mundo, que vai bater em muros de preconceito, mas que unidas são mais fortes do que imaginam.

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Crítica - Gaviã Arqueira: Vingadora da Costa Oeste

O Gavião Arqueiro nunca foi dos heróis mais populares da Marvel Comics. Imagine então sua parceira feminina Kate Bishop, a Gaviã Arqueira, que tem como principal ídolo o herói Clint Barton. Porém, mesmo sem todos os holofotes do mundo virados para eles, o escritor Matt Fraction, responsável pela série mensal Hawkeye, resolveu dar uma importância maior à heroína. E a saga, originalmente lançada em 2013 nos EUA, chegou ao Brasil pela editora Panini, que trouxe a história solo dela no encadernado Gaviã Arqueira: Vingadora da Costa Oeste, que reúne as edições 14, 16, 18 e 20 de Hawkeye e Hawkeye Annual 1.


A história começa em Nova Iorque, com uma discussão entre a heroína e seu tutor Clint Barton, o Gavião. A garota não aguenta mais os problemas em que o herói se mete e resolve ir para Los Angeles e se ver livre da vida confusa que tem. Totalmente inconsequente, ela é pega em uma armadilha pela vilã Madame Máscara logo no começo da trama. Sem muita experiência no combate ao crime, ela se vê tragada em uma história com mensageiros malignos de hotel, floriculturas, policiais gorduchos e velhos tarados.


Antes mesmo da metade da trama, Fraction introduz na história novos personagens, que passam a ser os melhores amigos de Kate em Los Angeles. Ela os conhece assim que se estabelece em sua mais nova casa. Eles são dois homens negros de meia idade que estão prestes a se casar. É um tapa na cara de quem acha que histórias em quadrinhos não são lugar para mensagens políticas e sociais. A história é leve e não foca, em absoluto, em mensagens de inclusão, mas coloca uma mulher e um casal homoafetivo sob os holofotes de uma divertida saga, inserindo a diversidade da melhor forma possível na trama.

E enquanto faz o papel de criar um ambiente menos conservador, Fraction mantém “diversão” como a palavra da vez. Kate enfrenta problemas sempre com o pensamento de super-heroína, mas não consegue se firmar como uma. Ela é impulsiva, esquece as possíveis virtudes dos rivais e se envolve em mais problemas do que consegue dar conta. Um retrato excelente de uma jovem adulta que acabou de sair da adolescência.


Durante o encadernado inteiro, enquanto busca um dinheirinho para sobreviver em Los Angeles, ela persegue e ao mesmo tempo foge de sua Nemesis, em uma história linear. A cada capítulo (cinco no total), o foco é em uma trama menor, mas que de alguma forma está ligada à principal, o que não cansa o leitor, já que há variedade de personagens e de subtramas. O desenvolvimento da personagem é muito interessante e a ligação que faz com os personagens novos é muito boa.


Gaviã Arqueira mostra à Marvel que o problema atual da editora não é a diversidade. Caso fosse, uma personagem derivada do Gavião Arqueiro, que tem na trama coadjuvantes negros e gays, jamais daria certo. Fraction soube fazer uma história divertida e intimista, mostrando que não é preciso explodir o mundo e usar os maiores vilões e heróis para se fazer uma história. Ele fez um thriller de ação bastante interessante, colocando frente a frente uma heroína atrapalhada e uma vilã cartunesca, criando um spin-off de um dos heróis mais divertidos da Marvel nos dias de hoje.