Quando eu era criança, o melhor desenho de super-herói da
época era o Batman: The Animated Series. Com todo o clima noir, mas cheio de
ação e aventura, via o homem-morcego enfrentar vilões com o cérebro e os
punhos. Gostava tanto que procurei mais histórias do Batman, justamente nos
quadrinhos. Foi por culpa desse desenho que fui atrás de Cavaleiro das Trevas,
Ano Um, Asilo Arkham, e de lá, para outros personagens. Por isso, o primeiro
quadro de Escolhas me levou à minha infância e, logo de cara, fiquei grudado
nas páginas.
A história é escrita por Felipe Cagno, com traços de Gustavo
Borges e cores de Cris Peter. A dupla de arte já havia me encantado em Pétalas,
por isso, quando vi Escolhas na livraria, agarrei meu exemplar como se não
houvesse amanhã. Os três juntos dão vida a João Humberto. Uma criança, que
assim como eu, teve a vida completamente alterada ao assistir ao Batman. Bem...
Não é exatamente o Batman, mas simplesmente por questões de direitos autorais.
A sequência inicial do gibi, mostrando a abertura do episódio em um quadro, e a
reação de João ao lado, é muito interessante. É possível sentir a empolgação do
garoto.
O herói que o garoto adora é o Lobo Cinzento. E ele não
perde um capítulo por nada no mundo. No caso dele, diferente do meu, ele decide
que quer ser um super-herói quando crescer. E se inspira tanto que tenta
defender os fracos dos opressores, mesmo quando isso significa levar uns
sopapos.
Mas João nunca desiste. Ele passa a infância, a adolescência
e o começo da vida adulta com a obsessão de virar um super-herói. Os pais dele
acham inadmissível a ideia e tentam mostrar que ele precisa mesmo é de um
emprego. Colocam-no em sessões de terapia e tentam mostrar o “mundo real”.
Mesmo assim, João mostra a todos nós que “todo sonho é piada até que o primeiro
homem o realize”.
A mensagem, é claro, não é sobre virar de fato um
super-herói, mas sobre do que nós desistimos. O que deixamos para trás
simplesmente por não ser fácil realizar, ou considerado impossível por uns.
João é forte, é persistente, e quando lhe perguntam se é isso que ele quer da
vida, ele nos faz refletir se o que vivemos hoje é realmente o que sonhamos um
dia. A vida comum, tradicional, é realmente o sonho de todos? Ele explica que é
possível ter uma vida boa, com a família e um bom emprego mesmo sem abrir mão
de nada que realmente amamos.
Escolhas é uma HQ de leitura rápida, mas que prende os olhos
quadro a quadro, por conta da bela arte. A lição deixada por João Humberto é
muito boa e o final é muito satisfatório. Fiquei realmente feliz que em um
mundo onde os filmes são todos de heróis que resolvem tudo na base da
pancadaria, foram justamente quadrinistas brasileiros que mostraram o que eu
considero também a essência de um verdadeiro herói.
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