segunda-feira, 26 de junho de 2017

Crítica - Escolhas


Quando eu era criança, o melhor desenho de super-herói da época era o Batman: The Animated Series. Com todo o clima noir, mas cheio de ação e aventura, via o homem-morcego enfrentar vilões com o cérebro e os punhos. Gostava tanto que procurei mais histórias do Batman, justamente nos quadrinhos. Foi por culpa desse desenho que fui atrás de Cavaleiro das Trevas, Ano Um, Asilo Arkham, e de lá, para outros personagens. Por isso, o primeiro quadro de Escolhas me levou à minha infância e, logo de cara, fiquei grudado nas páginas.

A história é escrita por Felipe Cagno, com traços de Gustavo Borges e cores de Cris Peter. A dupla de arte já havia me encantado em Pétalas, por isso, quando vi Escolhas na livraria, agarrei meu exemplar como se não houvesse amanhã. Os três juntos dão vida a João Humberto. Uma criança, que assim como eu, teve a vida completamente alterada ao assistir ao Batman. Bem... Não é exatamente o Batman, mas simplesmente por questões de direitos autorais. A sequência inicial do gibi, mostrando a abertura do episódio em um quadro, e a reação de João ao lado, é muito interessante. É possível sentir a empolgação do garoto.


O herói que o garoto adora é o Lobo Cinzento. E ele não perde um capítulo por nada no mundo. No caso dele, diferente do meu, ele decide que quer ser um super-herói quando crescer. E se inspira tanto que tenta defender os fracos dos opressores, mesmo quando isso significa levar uns sopapos.

Mas João nunca desiste. Ele passa a infância, a adolescência e o começo da vida adulta com a obsessão de virar um super-herói. Os pais dele acham inadmissível a ideia e tentam mostrar que ele precisa mesmo é de um emprego. Colocam-no em sessões de terapia e tentam mostrar o “mundo real”. Mesmo assim, João mostra a todos nós que “todo sonho é piada até que o primeiro homem o realize”.

A mensagem, é claro, não é sobre virar de fato um super-herói, mas sobre do que nós desistimos. O que deixamos para trás simplesmente por não ser fácil realizar, ou considerado impossível por uns. João é forte, é persistente, e quando lhe perguntam se é isso que ele quer da vida, ele nos faz refletir se o que vivemos hoje é realmente o que sonhamos um dia. A vida comum, tradicional, é realmente o sonho de todos? Ele explica que é possível ter uma vida boa, com a família e um bom emprego mesmo sem abrir mão de nada que realmente amamos.


Escolhas é uma HQ de leitura rápida, mas que prende os olhos quadro a quadro, por conta da bela arte. A lição deixada por João Humberto é muito boa e o final é muito satisfatório. Fiquei realmente feliz que em um mundo onde os filmes são todos de heróis que resolvem tudo na base da pancadaria, foram justamente quadrinistas brasileiros que mostraram o que eu considero também a essência de um verdadeiro herói.

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