quarta-feira, 10 de maio de 2017

Crítica - Chico Bento: Arvorada


Quando soube que Chico Bento teria um “remake” na série da MSP, não soube ao certo o que pensar. Gostei bastante de Pavor Espaciar, uma história divertida e que capturou bem a essência interiorana de lendas urbanas de discos voadores. Porém, quando as primeiras imagens foram divulgadas, logo me esqueci do anterior e me deixei ser pego por mais uma das belíssimas obras da turma da Mônica.

Foram dias e mais dias caçando o livro até finalmente ter a chance de abri-lo em casa e ser pego por um dos maiores espetáculos dos últimos anos. Que orgulho de poder ler uma obra dessas no idioma original, no meu idioma. Infelizmente, a obra não é tão popular quanto a de tantos super-heróis por aí e não terá a apreciação que merece ao redor do mundo. Mas como nós somos privilegiados em poder ter em mãos essa obra-prima.

Em Arvorada, Orlandeli trouxe uma arte pouco comum, com um roteiro tocante. O foco é a relação entre Chico Bento e a avó dele. Um, representando a juventude, impulsionado pelos desejos mais simples e que pensa que tudo no mundo é eterno. A outra, mais sábia, provavelmente passou por tudo o que o jovem já viveu. Desde as coisas simples às mais duras. Ela é a essência da verdadeira avó. Ela ensina as lições da vida, mas é carinhosa, terna e amorosa.


De forma superficial, os diálogos parecem ser extremamente simples, porém, não são. A construção, os vícios de linguagem e a simplicidade nas falas interioranas são meticulosos. Muito bem construídos, fazem com que o leitor mergulhe de cabeça e nem ao mesmo perceba que existem incontáveis “erros” de português. A leitura flui de forma maravilhosa.

Mas não apenas com diálogos e narração se faz uma bela história. Chico e sua avó são muito mais do que isso. Os dois compartilham lindos momentos ao longo da trama, que mais parece uma poesia em telas. As fortes cores amarelas, em uma diagramação não convencional, sem quadros, consegue trazer ao leitor uma narrativa bela, sem amarras. Orlandeli usou todos os artifícios para fazer a verdadeira arte, sem se preocupar com linhas separando as ações, sem preocupações com a narrativa quadrada, americanizada. A trama, os desenhos e cores formam um verdadeiro espetáculo.


Arvorada é isso. Simples assim. Um espetáculo. Roteiro que, na simplicidade, toca o fundo do coração de cada leitor. A cada página, uma verdadeira obra-prima de cores e emoções que levam à infância, à solidão que todos sentimos em algum momento, mas que ao olhar para o lado, percebemos que havia alguém para ensinar, para apoiar. Orlandeli nos faz lembrar daquelas pessoas que são eternas em nossas vidas, nas relações mais sinceras que todos temos, aquelas que não são baseadas em trocas de favores. E soube retratar muito bem como o amor de avó (ou de avô) é. Um amor puro, que tem a única intenção de fazer o bem para a neta ou neto e que é retribuído, também, de forma pura e sincera. 

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