Quando soube que Chico Bento teria um “remake” na série da
MSP, não soube ao certo o que pensar. Gostei bastante de Pavor Espaciar, uma
história divertida e que capturou bem a essência interiorana de lendas urbanas
de discos voadores. Porém, quando as primeiras imagens foram divulgadas, logo
me esqueci do anterior e me deixei ser pego por mais uma das belíssimas obras
da turma da Mônica.
Foram dias e mais dias caçando o livro até finalmente ter a
chance de abri-lo em casa e ser pego por um dos maiores espetáculos dos últimos
anos. Que orgulho de poder ler uma obra dessas no idioma original, no meu
idioma. Infelizmente, a obra não é tão popular quanto a de tantos super-heróis
por aí e não terá a apreciação que merece ao redor do mundo. Mas como nós somos
privilegiados em poder ter em mãos essa obra-prima.
Em Arvorada, Orlandeli trouxe uma arte pouco comum, com um
roteiro tocante. O foco é a relação entre Chico Bento e a avó dele. Um,
representando a juventude, impulsionado pelos desejos mais simples e que pensa
que tudo no mundo é eterno. A outra, mais sábia, provavelmente passou por tudo
o que o jovem já viveu. Desde as coisas simples às mais duras. Ela é a essência
da verdadeira avó. Ela ensina as lições da vida, mas é carinhosa, terna e
amorosa.
De forma superficial, os diálogos parecem ser extremamente
simples, porém, não são. A construção, os vícios de linguagem e a simplicidade
nas falas interioranas são meticulosos. Muito bem construídos, fazem com que o
leitor mergulhe de cabeça e nem ao mesmo perceba que existem incontáveis
“erros” de português. A leitura flui de forma maravilhosa.
Mas não apenas com diálogos e narração se faz uma bela
história. Chico e sua avó são muito mais do que isso. Os dois compartilham
lindos momentos ao longo da trama, que mais parece uma poesia em telas. As
fortes cores amarelas, em uma diagramação não convencional, sem quadros,
consegue trazer ao leitor uma narrativa bela, sem amarras. Orlandeli usou todos
os artifícios para fazer a verdadeira arte, sem se preocupar com linhas
separando as ações, sem preocupações com a narrativa quadrada, americanizada. A
trama, os desenhos e cores formam um verdadeiro espetáculo.
Arvorada é isso. Simples assim. Um espetáculo. Roteiro que,
na simplicidade, toca o fundo do coração de cada leitor. A cada página, uma
verdadeira obra-prima de cores e emoções que levam à infância, à solidão que
todos sentimos em algum momento, mas que ao olhar para o lado, percebemos que
havia alguém para ensinar, para apoiar. Orlandeli nos faz lembrar daquelas pessoas
que são eternas em nossas vidas, nas relações mais sinceras que todos temos,
aquelas que não são baseadas em trocas de favores. E soube retratar muito bem
como o amor de avó (ou de avô) é. Um amor puro, que tem a única intenção de
fazer o bem para a neta ou neto e que é retribuído, também, de forma pura e
sincera.
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