O Gavião Arqueiro nunca foi dos heróis mais populares da
Marvel Comics. Imagine então sua parceira feminina Kate Bishop, a Gaviã
Arqueira, que tem como principal ídolo o herói Clint Barton. Porém, mesmo sem
todos os holofotes do mundo virados para eles, o escritor Matt Fraction,
responsável pela série mensal Hawkeye, resolveu dar uma importância maior à
heroína. E a saga, originalmente lançada em 2013 nos EUA, chegou ao Brasil pela
editora Panini, que trouxe a história solo dela no encadernado Gaviã Arqueira:
Vingadora da Costa Oeste, que reúne as edições 14, 16, 18 e 20 de Hawkeye e
Hawkeye Annual 1.
A história começa em Nova Iorque, com uma discussão entre a
heroína e seu tutor Clint Barton, o Gavião. A garota não aguenta mais os
problemas em que o herói se mete e resolve ir para Los Angeles e se ver livre
da vida confusa que tem. Totalmente inconsequente, ela é pega em uma armadilha
pela vilã Madame Máscara logo no começo da trama. Sem muita experiência no
combate ao crime, ela se vê tragada em uma história com mensageiros malignos de
hotel, floriculturas, policiais gorduchos e velhos tarados.
Antes mesmo da metade da trama, Fraction introduz na
história novos personagens, que passam a ser os melhores amigos de Kate em Los
Angeles. Ela os conhece assim que se estabelece em sua mais nova casa. Eles são
dois homens negros de meia idade que estão prestes a se casar. É um tapa na
cara de quem acha que histórias em quadrinhos não são lugar para mensagens
políticas e sociais. A história é leve e não foca, em absoluto, em mensagens de
inclusão, mas coloca uma mulher e um casal homoafetivo sob os holofotes de uma
divertida saga, inserindo a diversidade da melhor forma possível na trama.
E enquanto faz o papel de criar um ambiente menos
conservador, Fraction mantém “diversão” como a palavra da vez. Kate enfrenta
problemas sempre com o pensamento de super-heroína, mas não consegue se firmar
como uma. Ela é impulsiva, esquece as possíveis
virtudes dos rivais e se envolve em mais problemas do que consegue dar conta.
Um retrato excelente de uma jovem adulta que acabou de sair da adolescência.
Durante o encadernado inteiro, enquanto busca um dinheirinho
para sobreviver em Los Angeles, ela persegue e ao mesmo tempo foge de sua Nemesis,
em uma história linear. A cada capítulo (cinco no total), o foco é em uma trama
menor, mas que de alguma forma está ligada à principal, o que não cansa o
leitor, já que há variedade de personagens e de subtramas. O desenvolvimento da
personagem é muito interessante e a ligação que faz com os personagens novos é
muito boa.
Gaviã Arqueira mostra à Marvel que o problema atual da
editora não é a diversidade. Caso fosse, uma personagem derivada do Gavião Arqueiro,
que tem na trama coadjuvantes negros e gays, jamais daria certo. Fraction soube
fazer uma história divertida e intimista, mostrando que não é preciso explodir
o mundo e usar os maiores vilões e heróis para se fazer uma história. Ele fez
um thriller de ação bastante interessante, colocando frente a frente uma
heroína atrapalhada e uma vilã cartunesca, criando um spin-off de um dos heróis
mais divertidos da Marvel nos dias de hoje.
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