terça-feira, 4 de abril de 2017

Marvel Comics passa pela maior crise desde os anos 1990

A Marvel Comics escancarou, durante este final de semana, sua pior crise após a quase falência total nos anos 1990. Em uma reunião com os maiores lojistas de quadrinhos dos EUA e um do Canadá, Axel Alonso, editor-chefe da Casa das Ideias, e David Gabriel, vice-presidente de vendas e marketing, informaram que gostariam de entender melhor os motivos da diminuição drástica das vendas da empresa. Esta foi a maior reunião da Marvel com o mercado no século XXI e a cobertura foi feita exclusivamente pelo veículo ICv2.

Os motivos, além de muitos, são alarmantes e afetam toda a estrutura da editora. Mas fica evidente que foi apenas agora que soou o alarme da empresa, afinal, dos 15 quadrinhos mais solicitados pelos lojistas em fevereiro deste ano, apenas um (Amazing Spider-Man) é de um personagem forte da Marvel Comics. A lista é praticamente dominada pela DC e dois dos títulos, Star Wars Darth Maul e Star Wars, são produzidos pela editora, mas não são dos personagens tradicionais da casa.


Lembrando que, nos EUA, o mercado de quadrinhos funciona por meio de solicitações dos lojistas e quando eles não vendem, são eles mesmos que lidam com o prejuízo. Portanto, a lista de quadrinhos encomendados reflete quase que com perfeição a procura e vendas das HQs.

Para entender os motivos da baixa das vendas, a Marvel chamou os lojistas, pois são eles que lidam com o consumidor final. Segundo os vendedores, um dos principais pontos a ser observado é a diversidade promovida pela editora. A Marvel tem tentado há anos se modernizar e levantar a bandeira da igualdade entre todos no universo dos quadrinhos, introduzindo mais personagens negros, homossexuais e árabes, por exemplo. Porém, o que se percebeu é que o público consumidor é conservador.

De acordo com os lojistas, os compradores têm reclamado muito da descaracterização dos personagens clássicos, como o Capitão América, que passou a ser o Falcão Negro, o Thor, que atualmente é uma mulher, e tantos outros. O mundo real, conservador, homofóbico, encontrou o mundo dos quadrinhos. A Miss Marvel, que atualmente é uma árabe, está em uma fase positiva, com críticas e vendas consideradas boas para a editora, mas esse é um ponto fora da curva, não um exemplo.


E como se não bastasse esse problema, outro bastante grave é que os leitores estão desinteressados pelos reboots ou reinvenções de personagens clássicos, trazidos, em geral, por grandes sagas e eventos. Em meados dos anos 2000, época da Queda dos Vingadores, esses acontecimentos costumavam ser anuais. Hoje em dia, existem tantos eventos que eles ocorrem simultaneamente, sem espaço de tempo entre eles, com personagens participando de mais de um ao mesmo tempo. Além de confundirem os leitores, isso gerou desinteresse e o público fiel parou de acompanhar seus personagens favoritos, por estarem diretamente ligados a esses eventos. O mais recente é o Secret Empire e Alonso fez questão de dizer que não há mais nenhum planejado depois deste.


Não bastasse isso, reiniciar os números das HQs, começando tudo pela edição #1, funciona a princípio, mas para por aí. Segundo Alonso, imediatamente após o reboot, as vendas aumentam muito. Quando as vendas começam a despencar, outra saga surge e reinicia tudo novamente. Mas aí o estrago já está feito e o leitor já ficou completamente desinteressado.

Outro ponto bastante grave apontado pelos representantes do mercado foi a falta de competência de segurar as melhores equipes criativas na casa. Se olharmos superficialmente, as duas empresas que dominam o mercado, Marvel e DC, vendem praticamente o mesmo produto, com histórias de super-heróis e ação. Com isso, os trabalhos autorais ficam de fora da jogada. Por isso, os times criativos de mais talento preferem ir a outras editoras, colocar seus trabalhos autorais para apreciação do grande público. Com um mercado mais seleto, menor custo de distribuição e contratos que favorecem mais os artistas, empresas como a Image conseguem “roubar” os talentos da Marvel, oferecendo contratos mais lucrativos para os artistas, apesar das vendas menores.

Tudo isso converge para um ponto. O mercado de quadrinhos sempre foi muito fechado e tentou atingir as mesmas pessoas por décadas. Agora, é necessário se reinventar. Buscar a diversidade não funcionou, nesse momento. Pode até ser que funcione no futuro. A DC, por exemplo, para melhorar as vendas, recriou seu universo e trouxe os personagens da forma que eram antes, com leves alterações.  


Sem ter uma fórmula correta do que fazer agora, aumentando as vendas, mas sem se fechar novamente em uma bolha, buscando coisas diferentes, a Marvel tem um caminho muito difícil e imprevisível. Deve haver um grande chacoalhão por parte dos editores. A publicidade e marketing da empresa também precisam se reinventar, para atingir públicos que não atinge hoje. Toda a estrutura deve ser alterada se a editora quiser fazer um papel diferente no mercado, pensando não apenas nas vendas de agora, mas se planejando para o futuro. 

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