quarta-feira, 19 de abril de 2017

Crítica - Mulher-Maravilha Terra Um


A heroína mais popular da DC ganhou uma nova publicação com tratamento de luxo no Brasil. Mulher-Maravilha: Terra Um tem 148 páginas, capa dura e traz uma equipe criativa de renome, com Grant Morrison, um dos mais criativos roteiristas do mercado editorial e o responsável por recontar a origem da personagem. Os desenhos são de Yanick Paquette e as cores, de Nathan Fairbairn. Os três, juntos, criaram um dos melhores episódios da personagem desde que foi criada. O roteiro não tem enrolações, os desenhos estão lindos e são muito bem preenchidos com as cores de Fairbairn.

Visual mescla o clássico com moderno, rico em detalhes

A trama começa com o semideus grego Hércules fazendo a rainha Hipólita se ajoelhar perante ele, com uma multidão de mulheres enjauladas como testemunhas. Ao tentar estuprá-la, porém, a realeza consegue inverter o jogo e matá-lo. Ela liberta suas protegidas e diz que dali para frente, nenhum homem interferirá em seu reinado. A história tem um salto de 3 mil anos, vindo para os dias atuais, mostrando a história da filha da rainha na Ilha Paraíso. A princesa anseia por conhecer o mundo, mas é proibida pelas leis do local.

Porém, ao encontrar um piloto da força aérea americana ferido na ilha, ela decide ajudá-lo e foge para o continente, local de origem dele. Com isso, ela é mal vista pelas moradoras da Ilha e caçada por elas. A história não tem muita ação, mas é dinâmica, acontece bastante coisa. Em 148 páginas, vemos o motivo do isolamento das amazonas, a origem da Mulher-Maravilha, sua rebeldia, fuga para o mundo dos homens e retorno ao lar. Sem esquecer também uma série de referências à mitologia grega, não deixando para trás uma das características mais marcantes do universo da personagem.

Estilo arquitetônico da Ilha é visivelmente grego

Os traços são bastante interessantes. No começo, quando vemos apenas a Ilha Paraíso, parece que todas as personagens são desenhadas com o mesmo corpo. Ao levar a história para o continente, porém, as pessoas têm corpos mais flácidos ou magros, o que causa espanto à Mulher-Maravilha, que está acostumada a ver apenas mulheres grandes e fortes. Aliás, ela mesma talvez tenha sido desenhada em uma de suas versões mais robustas. É uma mulher grande e com estrutura bastante larga.

Diana se desespera ao ver mulheres doentes do continente

A Ilha é um cenário que à primeira vista parece bastante absurdo, por ser uma mescla de paraíso natural com uma espécie de sonho erótico do autor. Com mulheres guerreiras, fortes e sem nenhum homem à vista, é um local não apenas de combates e prosperidade, mas também de libertinagem e bebidas. As mulheres claramente têm relações lésbicas de forma desinibida. Na verdade, isso é uma referência a Esparta. Muitos arquivos históricos apontam que os lendários soldados, cercados apenas por homens durante anos e anos, passavam a praticar relações homossexuais com os companheiros de batalha.

Com isso, Grant Morrison aproveita para dar um tom fetichista à história. Em certo ponto, a protagonista oferece ao piloto uma coleira de couro com espinhos de metal para que ele use e se ajoelhe perante ela. Além disso, a princesa passa parte da história acorrentada, totalmente dominada por suas captoras. Se levarmos em consideração que na Ilha as mulheres são desenhadas muitas vezes em poses mais provocantes e temos a sexualização da mulher, isso pode ser visto como um ponto bastante negativo na história. Afinal, além da objetificação da mulher, em dois momentos vemos uma mulher dominada, humilhada. E o mesmo não acontece com os homens. Mesmo no início, quando Hércules é morto, ele não é humilhado.


Mulher-Maravilha subjulgada por suas companheiras

Os autores perderam a oportunidade de criar um hino feminista nesta obra. Apesar disso, o encadernado tem muitos pontos positivos. A história é interessante, a protagonista é carismática, belíssima e a arte é um espetáculo. Os cenários são lindos, ricos e detalhados. A Ilha Paraíso faz jus ao nome, com cores vivas e traços que dão ar de futurismo a uma Grécia antiga. O trio de autores entrega ao leitor uma das melhores releituras da personagem, que merece uma continuação, talvez se impondo mais no mundo dos homens e mostrando sua força em um mundo patriarcal.

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