O mercenário tagarela Deadpool certamente ganhou o filme que merecia
em 2016. Com diálogos metalinguísticos, referências aos atores dos personagens
e com muitas piadas, a adaptação fez jus às boas histórias do anti-herói.
Infelizmente, Deadpool: Caçador de Almas não foi capaz de trazer para o papel o
bom humor que o personagem trouxe para a tela. O encadernado tem 140 páginas,
com roteiro de Gerry Duggan e Brian Posehn.
Ao contrário das melhores histórias do Deadpool, as que fizeram dele
um personagem único, essa é muito linear e engessada. O tagarela é tão adorado
porque ele não sabe o limite dos quadros, “sabe” que é um personagem de
quadrinhos, conversa com o leitor. Nesse arco, nada disso acontece. Há uma
piada ou duas, como quando ele bate a cabeça ao saltar de um prédio e se
pergunta “como o Batman faz isso parecer tão fácil”. Há humor, mas não é tão
divertido.
A trama é uma continuação do encadernado anterior “Meus Queridos
Ex-Presidentes”. Naquela publicação, a história é mais ridícula, mas no bom
sentido, e tem foco no mercenário enfrentando presidentes zumbis americanos,
invocados com a intenção de salvar a pátria. Desta vez, temos Deadpool em uma
missão simples. Ele precisa matar seis pessoas que fizeram pacto com a entidade
demoníaca Vetis. Para isso, ele comete atrocidades em quadros bem sangrentos.
Nada verdadeiramente exagerado. Quem está acostumado com o personagem não vai
achar nada fora do comum.
A história é contada em duas partes. A primeira, publicada
originalmente em Deadpool #7, tem arte de Scott Koblish e se passa na era de
ouro dos quadrinhos, segundo o próprio personagem. Ela traz traços imitando
histórias antigas do Homem-Aranha e mostra o Deadpool em uma introdução ao arco
principal, com a participação do Homem de Ferro da época que teve sérios
problemas com bebidas alcoólicas (referência ao clássico “O Demônio na
Garrafa”). Esta primeira parte é mais interessante, com piadas, referências e
metalinguagem.
Já o arco principal, que reúne Deadpool dos números 8 a 12, com arte
de Mike Hawthorne, flui de forma previsível. A história tem algumas
reviravoltas, mas são lineares e, por isso, decepcionantes. Não há quebras de
quadro, ou nada verdadeiramente interessante. Há um momento que vemos como é
“dentro” da cabeça do mercenário, mas é um museu velho e sujo. É conservador
demais para um personagem que costuma conversar com o leitor. Faltaram
surpresas e ideias mais “fora do quadrado”.
Deadpool se encontra com Homem-Aranha, Demolidor, Jessica Jones. São
muitos crossovers e o anti-herói consegue tapear todos os participantes
especiais. Mesmo assim, o roteiro não é muito inspirador. O lado positivo fica
mesmo para o visual. A arte é bonita do começo ao fim. Outra coisa boa é que a
edição da Panini está caprichada, como todas dos encadernados Nova Marvel. Pena
que o roteiro ficou aquém do que promete. O personagem merece mais, com um
roteiro mais ousado.
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