A editora Pixel lançou em março o primeiro encadernado da
série de quadrinhos Mighty Morphin Power Rangers, baseado na série homônima de
televisão dos anos 1990. O material chegou ao Brasil com 128 páginas, capa dura
e traz as edições 0 a 4 da série lançada originalmente nos Estados Unidos pela
Boom Studios.
Antes de muitos detalhes, já vamos ao que mais interessa.
Sim, a história é boa e vale a pena para quem é fã da série. É possível também
que quem não era fã da versão televisiva goste. A aposta da Saban em investir
em um estúdio com bons profissionais para lançar sua versão de quadrinhos foi
acertada. O roteirista Kyle Higgins tem experiência no mercado e já escreveu
Batman e Asa Noturna, enquanto o ilustrador Hendry Prasetya já foi responsável
pela arte de Poderosa.
O maior defeito da publicação não afeta os leitores
brasileiros, já que é o fato do volume zero ser muito importante para o
entendimento da história. Como ele está no encadernado, não prejudica.
Surpreendentemente, não existem outros pontos negativos que não seja o fato de
ser mais uma série de ação, que realmente não traz grandes novidades.
Agora, para quem procura uma história simples, amarrada, com
boas ilustrações e bastante dinâmica, o quadrinho cumpre o papel. A trama se
passa na mesma cidade da séria, a Alameda dos Anjos, logo após os eventos do
arco do Ranger Verde da série televisiva, considerada a melhor da franquia, mas
não é preciso assistir para entender o que está acontecendo. A escolha foi
acertada, já que coloca o grupo original de cinco Rangers e um ex-inimigo
juntos tentando ser uma equipe. As consequências e desconfianças são muito
melhor trabalhadas que na TV, que praticamente ignora o fato do atual parceiro
ter acabado de tentar cravar uma espada no líder da equipe.
Higgins explora bem as personalidades dos Rangers, mesmo em tão poucas páginas. Tommy e Kim (Verde e Rosa) são os que têm mais espaço na história e começam a desenvolver empatia e apreço um pelo outro, como na televisão. Jason e Zack (Vermelho e Preto) estão bastante diferentes, sendo o primeiro um típico líder chato, que não entende os problemas, apenas quer suas ordens cumpridas. Já o segundo está mais emburrado e menos dançante que na série original. Trini e Billy (Amarela e Azul) aparecem menos, mas mantêm algumas características como o cuidado que a garota tem com os outros e a inteligência enorme do garoto.
Temos também uma passagem curta de Bulk e Skull. Na série
original, são bullys da escola. Aqui, são de uma espécie de fã clube dos
Rangers e responsáveis por algo que parece ser um canal de Youtube com vídeos
originais dos defensores da Alameda dos Anjos. No fim do encadernado, a Pixel
trouxe também uma história complementar, que foi lançada nos EUA nas primeiras
edições, escrita por Steve Orlando e ilustrada por Corin Howell. Em uma
referência à série de TV, Kimberly diz a Tommy que eles funcionam melhor em
doses menores. E é exatamente isso que faz Higgins na trama principal, insere
quase que por obrigação os personagens, de forma homeopática, mas de forma
funcional, que mostra a atenção dos responsáveis pelos detalhes. É um fan service,
mas carinhoso. Muda os personagens, mas os mantém lá como lembrança por terem
sido parte importante da série original.
Sem muito Sitcom adolescente, que tomava mais da metade do
tempo de cada episódio, a história mostra Rita Repulsa tentando retomar os
poderes do Ranger Verde para ela. A escolhida para fazer o trabalho sujo é
Scorpina, uma vilã recorrente da série televisiva, já que a imperatriz do mal
afastou seu principal servo Goldar, após ele ter falhado na última missão (a
saga Ranger Verde, da TV). Enquanto é atacado, Tommy deve se desviar não só dos
inimigos, mas também das visões e tormentos que Rita ainda lhe causa. Como se
isso não bastasse, o garoto faz parte de um grupo que lhe trata com nada mais
que desconfiança, com exceção de Kimberly, a única que realmente tenta ajuda-lo.
A trama é intercalada entre conflitos dos jovens na escola, entre
eles mesmos e, obviamente, temos muitas cenas de ação enquanto os defensores
tentam se acertar. As cenas de combate são muito dinâmicas, com movimentações
melhores que na TV. Os equipamentos dos Rangers, que sempre eram coisas feitas
nitidamente feitas de plástico, dessa vez tiveram os traços mais afinados,
modernizados e combinam mais com os trajes. E os zords, que são os robôs que
cada um deles controla, também são muito mais interessantes que na TV, já que
tem mobilidade e se apresentam como máquinas de combate individuais. Coisa impossível
de ser criada em uma série de televisão da década de 1990, que apenas colocava
os cinco robôs na tela para se acoplarem, formando o Megazord.
O artista aproveitou a trama e o material de base para criar
desenhos dinâmicos e de boa qualidade, equiparada a séries de primeira linha da
Marvel e da DC. A ação é impactante e os fãs conseguem facilmente reconhecer os
cenários da eterna série original, como a prisão de Goldar, a sala de controle
de Zordon e espaço da cruel Rita Repulsa. A arte das capas é ainda melhor e a
Pixel trouxe todas elas como material extra. Todas são muito coloridas e têm
muito brilho, casando perfeitamente com os Rangers, que nada mais são do que um
grupo muito colorido de super-heróis japoneses.
Para quem é fã da série, o material é leitura mais do que
indicada, trazendo os Rangers em um patamar de poderes nunca antes mostrados,
com um ponto de vista mais moderno e sem perder um pingo da essência da série
televisiva. Temos Rangers contra vilões clássicos e Megazords enfrentando
monstros gigantes, destruindo toda a cidade. A trama simples dá espaço para o
artista brilhar e trazer os Rangers originais para os dias de hoje em uma
releitura ótima de uma das séries infantis mais icônicas de todos os tempos.
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